Dentro da arte contemporânea, quer na música, quer na pintura ou na escultura, quer no teatro, se procuraram constantemente novos caminhos, levando o conceito de «arte» a novos patamares. Mas estes, desafiando o status quo instituído, têm sido sistematicamente combatidos por visões mais conservadoras, que consideram tais manifestações artísticas como uma «não arte». Um dos casos mais emblemáticos deste processo, durante o século passado, foi a expressão arte degenerada utilizada pelo regime nazi para se referir à arte moderna da primeira metade do Século XX. Este conceito incluía toda a arte que não fosse figurativa, imitativa, realista ou tradicional, remetendo a mesma para a categoria de «não arte». A expressão arte degenerativa foi cunhada pelo ministro da propaganda de Hitler, Josef Goebbels, numa campanha de descrédito dos movimentos vanguardistas que à época despontavam por toda a Europa. Foi montada uma exposição com as obras consideradas «subversivas» e confiscadas de museus e de colecções particulares, visando ridicularizar a arte moderna e inculcar aos seus visitantes a repulsa por estas mesmas obras, consideradas inferiores e que «manchavam a genuína cultura alemã».
Mas, ao contrário do que eventualmente se possa pensar, esta atitude da Alemanha nazi, aqui retratada, não é exclusiva do nacional-socialismo. Antes, é recorrente na nossa sociedade, entre pessoas instruídas, mas cujo conceito de arte se reveste das formas mais tradicionais, deixando de fora realidades mais contemporâneas de expressão artística. Neste contexto, pode se referir o caso da música erudita contemporânea que, entre nós, tem muito pouco espaço nas salas de concerto, ou mesmo nos programas dos Conservatórios, onde tende ainda a desempenhar um papel bastante minoritário e secundário.